Estávamos em silêncio por mais tempo que eu poderia contar, tudo devido àquela conversa. Eu havia acabado de virar de frente para você do lado esquerdo da cama, mas você não ouviu o som do farfalhar dos tecidos contra a fronha, já que estava usando fones de ouvido e permanecia deitado encarando a parede do lado direito. Depois de usufruir de boa parte do meu estoque de coragem, eu cutuquei seu ombro coberto pela colcha florida lilás. Você resmungou e eu disse que queria ver seu rosto; não demorou para que você se virasse e me lançasse um sorrisinho de lábios pressionados. Eu conhecia aquele sorriso. Você puxou a colcha sobre a sua cabeça e se enfiou para baixo dela, e eu, que não queria ficar de fora da brincadeira, fui atrás. E lá estávamos nós, mais uma vez em silêncio, em baixo da colcha florida lilás, sendo iluminados pelo visor do seu celular. Você me entregou um dos fones e eu reconheci a voz do lendário Russo em Pais e Filhos. Pouco antes da música acabar, você pesquisou mais uma música no YouTube e logo ouvi os acordes iniciais de Tempo Perdido. Cantamos a sua música num tom baixinho, como crianças que declaram seus segredos mais secreto aos seus melhores amigos, e quando chegou naquele bendito trecho, eu sussurrei só para você ouvir enquanto segurava seu rosto com ambas as mãos, cantarolando: "a tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos". Senti sua mão sobre a minha e sorri, mas o que me fez expressar aquela bendita bobeira na parábola da felicidade foi quando você beijou minha testa. Depois, você botou um cover de Girassóis de Van Gogh para tocar e eu preciso concordar que você realmente tem uma cara de quem vai foder minha vida. Não lembro se foi antes ou depois que eu comecei a chorar, mas eu chorei e, para abusar do clichê, você tentou limpar minhas lágrimas ao som de Queen, mas eu não deixei e murmurei um: "merda" porque não gosto de chorar na sua frente. Eu sei que você trocou Love Of My Life por Don't Stop Me Now só para descontrair, isso até me questionar se eu não queria botar alguma música. Eu pensei nela logo de cara e em questão de segundos estávamos ouvindo This Side Of Paradise do Coyote Theory. Virei o celular na sua direção para que você pudesse ler as legendas. Foi tão irônico ouvir: "our fingers dancing when they met" e sentir sua mão na minha, mas o melhor de tudo não foi isso. Eu achava isso clichê até ter seus lábios junto aos meus enquanto ouvíamos ele cantar: "I'll be yours and you'll be mine", mas sabe o que foi mais clichê nisso tudo? O fato de que eu sorri enquanto nos beijávamos. Esse é o pior clichê que eu poderia cometer namorando você e olha que nem o fato de termos escovado os dentes juntos é algo tão digno de primeiro lugar quanto isso! Eu já disse que tudo que envolve nós é clichê, e você sabe muito bem que eu odeio clichês… Bom, exceto os de romance.
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