sábado, 22 de agosto de 2020

A primeira vez que me senti parte da família

No natal do ano passado que passei com a sua família, seu tio me disse a seguinte frase: "bem-vinda à família". Não nego que tais palavras me chocaram de certo modo, mas também não nego que, por mais que aquilo soasse aconchegante, eu ainda me sentia um tanto deslocada quando o assunto era a sua família. Sempre fui o tipo de pessoa que demora para se adaptar e quando o assunto era estabelecer novos relacionamentos, eu era a última da lista e você soube disso no momento em que me viu isolada em um canto mexendo no celular nas oficinas de teatro. Aquele dia, quando eu fui na sua casa, eu não criei nenhuma expectativa de que algo especial fosse acontecer. Estávamos deitados na cama quando sua irmã veio avisar que iríamos jantar na sua tia, que mora no mesmo pátio que vocês. Demoramos um pouco para ir até lá. Era massa com frango e batata palha. Eu não disse isso para você porque fiquei com vergonha, mas aquela foi a primeira vez que comi massa com batata palha. Foi diferente e ao mesmo tempo saboroso. Enquanto jantávamos, tocava algumas músicas na televisão e eu nunca comentei isso com você, mas gosto do costume que sua família tem que fazer quase tudo ouvindo música. Após a refeição, você foi lavar a louça; as crianças estavam brincando até que sua mãe botou Um Minuto Para o Fim do Mundo para tocar. Sua mãe sugeriu que as crianças escolhessem os instrumentos imaginários que gostariam trocar e lá estavam eles: sua irmã e um dos seus primos na guitarra e sua mãe no vocal. Ela estava animada cantando do modo mais desafinado possível, mas parecia tão feliz. Foi quando alguém, não lembro quem, teve a ideia de fazer uma rodinha. Eu estava do seu lado, conversando enquanto você lavava a louça, secando uma coisa ou outra quando não sobrava espaço, até que seu primo me puxou pela mão até a rodinha, tornando minha participação na ciranda musical mais como uma obrigação do que um convite. E lá estávamos nós, um quarteto eufórico pulando, girando, cantando e até mesmo rindo ao som de CPM 22. Eu nunca imaginei que esse tipo de coisa aconteceria, muito menos com a sua família, mas, naquele momento, eu senti que fazia parte de tudo aquilo. A frase do seu tio fez todo o sentido porque eu finalmente me senti bem-vinda na sua família.

2 comentários:

  1. Achei fofíssimo que você tenha se sentido assim incluída, porque eu ia era morrer de vergonha, hahaha! É uma delícia a gente se sentir bem-vinda num lugar, né? <3 Adorei ler o seu relato, Kahhthi! Beijinhos :*

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    1. Ai, Shana, foi um dos melhores momentos de quentinho no coração que eu senti esse ano.
      Fico feliz que tenha gostado e obrigada pela visita <3

      Beijos e até mais!

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