sábado, 25 de abril de 2020

Ao meu primeiro amor de filhote: uma carta

Querido Guilherme,
nunca tive a oportunidade de chamá-lo de querido, principalmente porque eu não tinha motivos para chamar você dessa maneira. Afinal, eu tinha só 6 anos quando nos conhecemos e eu nem deveria saber o real significado do adjetivo “querido” naquela época.
Nos conhecemos na primeira série e todo aquele clichê de mangá shoujo que relata o primeiro amor em território escolar. Parando para pensar, me sinto em Aoharaido.
Enfim: eu havia acabado de entrar na escola e você era um dos meus inúmeros colegas.
Havia tantos meninos para gostar e eu acabei gostando justamente de você, um dos mais serelepes.
Você era ligado no 220 e eu era a mais quietinha da turma.
Formaríamos um casal estranho caso tivéssemos nos relacionado (mesmo que não tivéssemos idade para namorar em 2007), mas é comprovado pelas leis da física que os opostos se atraem.
Mudando de assunto, recentemente eu descobri a existência do termo amor de filhote, originário do famigerado puppy love em inglês. Eu já sabia da existência do termo puppy love, mas não imaginava que houvesse uma tradução para o português.
Acho que posso afirmar com (quase) toda a certeza do mundo que você foi meu primeiro amor de filhote porque o modo como eu gostava de você era tão ingênuo, já que éramos meras crianças que acabaram de entrar no ensino fundamental.
Às vezes eu paro para pensar sobre isso e acho que eu era um protótipo de stalker desde pequena porque eu gostava de observar você: gostava de observando você jogando futebol na educação física; gostava de observar você brincando com os outros meninos no recreio; gostava de observar você fazendo palhaçadas em sala de aula, mesmo que eu revirasse os olhos quando você falava algo bobo só para não deixar explícito que eu estava rindo por dentro porque no fundo, no fundo, eu gostava de você.
É tão bobo repensar o quão a gente é bobo quando é criança, né?
Eu não lembro se eu cheguei a falar para mais alguém que eu gostava de você além da minha mãe. Parando para pensar sobre isso, talvez eu tenha falado para a Andressa, mas eu nunca mais falei com ela desde que nós terminamos o fundamental.
No final, acho que só fizemos a primeira série juntos, mas você continuava estudando na mesma escola que eu, porém eu estudava de manhã e você, de tarde.
Há um episódio que aconteceu na primeira série que eu penso seriamente que nunca vou esquecer: não lembro ao certo, mas estávamos fazendo algo com nossos nomes, mas cada um tinha um nome de um colega diferente, e um dos meninos escreveu seu nome como “Guilherme Outono” ao invés de “Guilherme Antônio” e você, que não deixava nada passar, entrou na brincadeira dizendo que daria uma fruta para cada um de nós. Dessa vez, eu não lembro de ter revirado os olhos quando ouvi a sua piadinha, muito pelo contrário: eu ri com as meninas que estavam sentadas perto de mim e eu pensei: “como esse guri é bobo”.
Depois que eu terminei a primeira série e passei para a segunda, eu nunca mais vi você, já que eu passei para o turno da manhã, porém teve uma vez (acho que foi na quinta série) que nós nos encontramos depois de um tempão. Sinceramente, eu tinha até esquecido de você, já que crianças esquecem rápidos das coisas, mas quando eu vi você na fila dos meninos no corredor, eu pensei em sair correndo até o banheiro e não sair de lá nunca mais.
Inevitavelmente, você havia crescido um pouco, mas o seu cabelo continuava uma bagunça e eu… Bom, eu continuava com os dentes tortos e usando roupas cor-de-rosa.
Naquela época, alguém relembrou a minha paixonite por você e os meninos começaram a me zoar falando que eu ainda era apaixonadinha por você.
Eu já gostava de outra pessoa na quinta série, tanto que essa pessoa também receberá uma carta, mas quando eles disseram aquilo, eu nunca me senti tão envergonhada.
Eu não queria que você descobrisse que eu gostava de você, eu queria guardar aquele sentimento para mim.
Queria guardá-lo para todo sempre no fundo do meu coração.
Queria fazer dele o nosso amor que, na verdade, sempre foi meu; só meu e de mais ninguém.
Queria guardá-lo até que eu não aguentasse mais e tivesse que expressá-lo de alguma forma e olha onde estamos agora.
Às vezes eu me pego pensando o que aconteceu com você.
Onde você está, se você ainda mora em Gravataí, o que você está fazendo, se você repetiu alguma série, se você passou na faculdade, e até mesmo se você tem uma namorada...
Podemos ter trocado meia dúzia de palavras a vida inteira, mas no fundo, no fundo, eu te desejo tudo de bom.
Te desejo um bom futuro, um bom trabalho, um bom relacionamento com os seus pais e uma boa companhia que te amo tanto quanto eu te amei. Talvez não de um jeito tão ingênuo, mas puro a ponto de você decidir que ela é o amor da sua vida porque você merece alguém que te ame, mas não como eu, que queria guardar tudo aquilo para mim com essa mania egoísta que já é natural de toda criança, mas eu sou filha única, então conclui-se que eu seja inevitavelmente mais individualista do que os demais.
Sei que acabei fugindo do assunto, mas o que eu quero dizer é: eu amei você e eu não queria que você soubesse disso. Eu nunca quis, mas, no final das contas, você soube.
Ainda não sei se havia algum jeito de evitar que você soubesse sobre os meus sentimentos. Não sei se você acredita na Teoria do Caos, mas saiba que, ao meu ver, tudo isso foi a Teoria do Caos colocada em prática porque um pequeno deslize ocorrido no início da nossa história resultou em consequências que se quer eram imaginadas pelo meu eu de 12 anos.
O final dessa história não foi tão trágico ou tão triste quanto aqueles clichês em que a garota é apaixonada pelo seu vizinho e ele subitamente se muda para outro cidade, nem tão feliz quanto o fato de que, num futuro não muito distante, esse vizinho volta para a vizinhança e eles vivem uma história de amor digna de um young adult da Jenny Han.
No final das contas, eu não me arrepende de ter te amado porque foi você, justamente você, um dos garotos mais elétricos da turma, que me guiou até os caminhos que levariam àquilo que eu chamaria futuramente de amor.
Com amor, Katherine.

3 comentários:

  1. Achei bem fofo que você tenha escrito uma carta tão positiva e, se foi pra prosear ou se é real, que você consiga ter bons sentimentos e desejos pro seu amor de infância onde quer que ele esteja <3 Já notei a inspiração pras cartas que você mencionou no discord, hahaha!

    Beijos! <3

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    Respostas
    1. Fico feliz que tenha achado fofo, Shana. Gosto da ideia de eternizar sentimentos em cartas, sejam elas de amor ou não, então acho que posso dizer que são reais, sim.
      Pois é, minha cara, eu quero enfiar meu projetinho de fazer cartas de amor para todas as pessoas que já amei em tudo.
      A Lara Jean que habita em mim saúda a Lara Jean que habita em você: Lara Jeanastê.

      Beijos e até mais!

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