terça-feira, 17 de março de 2020

Ao meu primeiro amor do cursinho: uma carta

Querido Diogo,
acho que vou começar toda carta dizendo que acho estranho começar uma carta chamando alguém de querido. Eu não costumo usar apelidos carinhosos com as pessoas, já que raramente chamo as pessoas pelo apelido, por mais que as pessoas na maioria das vezes se refiram a mim pelo meu apelido, mas isso não vem ao caso. Deve ser estranho receber uma carta desse tamanho. No momento, eu tenho tantas coisas a dizer, mas não sei por onde começar. É meio óbvio dizer que deve ser pelo início, mas eu estou com medo de assustar você que nem eu assustei aquela vez e eu não quero estragar nossa amizade… Se é que você define isso como amizade. Enfim, espero que esteja preparada para ouvir um turbilhão de confissões sobre meus sentimentos mais íntimos.
Basicamente, desde que eu bati meu olho em ti, eu pensei: "ele tem cara de quem gosta de super-heróis". Eu tinha certeza disso. E eu acrescentei mentalmente: "eu preciso falar com ele".
De início, eu não falei nada e pensava seriamente que nunca falaria.
Maldita timidez que me impede de fazer o que eu quero.
Você era alguém ativo em sala de aula. Eu te admirava por ser alguém capaz de debater sobre os mais diferentes assuntos sem fazer com que aquilo resultasse em uma discussão.
Você era sincero e eu sempre gostei de pessoas sinceras.
Você não tinha medo de desapontar alguém com a sua opinião porque, ao meu ver, você tinha consciência de que todos nós temos opiniões diferentes sobre diferentes assuntos.
Talvez tenham sido esses um dos principais pontos que fizeram com que eu acabasse caidinha por você mais rápido do que eu imaginava.
No final da contas, eu acabei falando contigo. Eu tive que dar o primeiro passo, óbvio, porque se dependesse de ti, acho que o mundo pararia de girar, e olha que eu nunca fui de tomar iniciativa.
Eu sempre fui a pessoa que é chamada, não a pessoa que chama. É estranho inverter os papéis.
Lembro de ter usado a tática de sentar em um lugar próximo ao seu para que a minha chance de fazer uma abordagem aumentasse, ou pelo menos até o momento em que eu juntasse coragem o suficiente para falar com você.
Lembro que você estava sentada atrás de mim na fileira do meio da sala. Eu me virei, cutuquei seu braço para chamar a sua atenção porque você estava com fones de ouvido (mais tarde eu percebi que você não perdia a oportunidade de estar com fones de ouvido) e perguntei como começava Homem-Aranha: De Volta Ao Lar, já que aquele era, e continua sendo, um dos únicos filmes da Marvel que eu ainda não vi. Você respondeu que não lembrava… O resto da conversa? Não me pergunte porque eu não lembro, por mais que minha memória seja melhor do que a sua.
Felizmente, acho que posso dizer que começamos uma amizade a partir daquele dia. Às vezes passávamos o intervalo do cursinho juntos e eu gostava de passar tempo com você, até aquele fatídico dia… O dia em que eu finalmente tomei vergonha na cara para perguntar para você se você tinha namorada (ainda acho que você tem cara de menino comprometido).
Eu elaborei um plano infalível, bem ao estilo Cebolinha, para perguntar se você tinha namorada e eu nunca conseguia colocá-lo em prática.
Basicamente, ele se resumiu a jogar verde para colher maduro porque eu simplesmente comentaria algo como: "tu tem cara de menino comprometido" e aí você diria o que eu queria ouvir.
No final, eu nunca consegui botar a droga desse plano em prática, então eu desisti de tentar fazer as coisas de modo indireto e resolvi ser direta.
Assim que eu cheguei em casa, mandei a seguinte mensagem para você: "oh, Diogo, posso te perguntar um negócio?". Você respondeu pouco mais de meia hora depois com um singelo: "claro".
Aquele era o meu momento de brilhar.
"Meu cachorro quer saber se tu tem namorada"...
É, eu não tinha um jeito pior de perguntar aquilo.
Você respondeu uns minutos depois com uma risadinha e disse: "teu cachorro é um cão bem curioso. Não, não tenho".
Eu repliquei: "meu cachorro agradece".
Até eu cometer a loucura de marcar a sua mensagem dizendo que não tinha namorada com a seguinte frase: "agora tem. Te amo, namorado" com direito a um emoji de coração vermelho no final de frase.
Lembro até hoje do quão eu te assustei quando mandei aquilo. Fico imaginando a sua cara ao ler aquela mensagem.
Você respondeu no dia seguinte com uma carinha do Pac-Man e perguntou se eu iria no cursinho, eu disse que sim e bom, você disse que nos encontraríamos lá.
Quando chegou o intervalo, eu fui falar com você; te disse que eu estava meio que fora de mim, você pensou que eu estava bêbada e eu disse que foram só quinze segundos de coragem insana e eu preciso confessar que, realmente, foram os quinze segundos mais insanos de toda a minha vida.
O fato de você ter visto minha mensagem em um dia e só ter respondido no outro atacou de vez a minha ansiedade. Eu te disse que eu não consegui dormir direito aquela noite e eu não estava brincando.
Maldita ansiedade que me assombra nos bons e maus momentos.
Ao contrário de mim, você é uma pessoa bem calma e eu invejo demais essa sua característica.
Quem me dera ser tão good vibes quanto você.
No final, eu convidei você para ir ao cinema e prometi que não beijaria você.
Acabamos vendo Rei Leão.
Compramos duas pipocas por engano (eu disse para comprarmos uma doce e salgada, meio a meio, mas você entendeu que era para comprar uma doce e uma salgada) e não conseguimos comer tudo durante o filme.
Depois que saímos da sessão, conversamos sobre o filme enquanto voltávamos para a parada de ônibus e, na saída do shopping, eu perguntei se você lembrava daquela maldita promessa que eu fiz e confessei que gostaria de quebrá-la naquele exato momento.
Eu pensei: “é agora ou nunca” e você me deu o fora mais fofo que alguém já me deu.
Mesmo dizendo que não gostava de mim, você foi um amorzinho. Eu não me contive e dei um beijinho na sua bochecha porque você foi sincero e eu sempre gostei de pessoas sinceras.
Assim que o cursinho acabou, eu falei poucas vezes com você, mas eu já sabia que você passaria na UFRGS.
Sinceramente, eu era louca por você e eu imaginava tudo e mais um pouco contigo.
Eu imaginava nós dois na mesma classe de Cálculo e Geometria Analítica na UFRGS; imaginava nós dois andando de mãos dadas pelo Campus do Vale; imaginava nós dois almoçando no RU; eu imaginava todo o meu futuro com você.
Eu tenho consciência de que nem todos os amores dão certo e, mesmo que não tenha dado certo, eu gostei de ter gostado de você. Eu amei você, Diogo, e em nenhum momento me arrependo de ter amado.
Com amor, Katherine.

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