quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Ao meu primeiro amor do ensino médio: uma carta

Querida Mariana,
é estranho começar uma carta com a palavra “querida” porque (1) essa é a segunda carta que eu escrevo em toda a minha vida e (2) eu ainda não sei ao certo o que dizer, mas vamos começar do início.
Nos conhecemos na escola quando eu estava no 1º ano. Minha vida se resumia a estudos, amigos e, claro, a bendita procrastinação.
Preciso confessar que eu me sentia meio sozinha antes de te conhecer. Mesmo que eu tivesse a Bárbara e a Marluce como amigas, eu me sentia sozinha, tanto que 2016 foi o ano em que eu passei a desenvolver a maldita depressão. Além do mais, não sei se você lembra, mas você fez um desenho meu com a minha camiseta de alien e meu colar de pedra com a frase: “você é mais forte do que pensa” e me mandou no Facebook. Eu tenho a foto salva no computador até hoje. Acho que você não sabe, mas uma colega minha com quem eu havia feito amizade mudou para o turno da manhã poucos meses depois de terem voltado às aulas e isso me deixou meio jururu, até que eu conheci você.
Sendo sincera, eu não lembro ao certo o que levou a nos relacionar, mas não posso negar que eu ficava de olho em ti na escola.
Eu te achava interessante, sabe? Você parecia o tipo de garota com quem eu poderia facilmente me relacionar.
Eu e a Bárbara comentávamos uma com a outra que você parecia a Hazel Grace e eu tinha certeza absoluta de que você não era hétero. Sério. Era uma das maiores certezas que eu tinha em 16 anos de vida.
Você era, e continua sendo, alta se comparada as suas amigas.
Eu via você andando pelo pátio com o seu grupinho de amigas e você parecia tão cool kid.
Até que eu falei com você.
Sinceramente, não me recordo o que fez com que eu falasse com você, mas lembro de ouvir você falar que queria sair com a sua crush e eu resolvi me manifestar, sugerindo que vocês fosse à Tia Kuka.
Como nos aproximamos? Não faço a menor ideia, mas nos aproximamos. Quando eu notei, já estava andando de mãos dadas com você pela escola.
Uma das minhas colegas, a Amanda, sempre me perguntava de você. Perguntava como você estava, como “nós” estávamos e como eu me sentia em relação a você; se eu não ficava com você porque você era imatura ou algo do tipo.
Eu procurava responder cada uma dessas perguntas com cuidado. Eu não queria deixar transparecer que eu gostava de você. Eu nunca quis porque, na época, parecia tão errado gostar de você.
Você só tinha 12 anos e eu, 16.
Lembro que teve uma vez que eu te disse: “Falei de ti para a minha mãe” na saída da escola e você respondeu que você era uma pré-adolescente e eu era uma adolescente e, sinceramente, eu entendi isso como um fora.
Teve uma vez que nós nos beijamos enquanto nos despedíamos no recreio. Você diz que foi só um selinho, e foi mesmo, não posso negar, mas foi algo especial para mim.
Eu nunca tinha beijado ninguém naquela época; beijo de língua, no caso.
Eu costumava dizer que eu só dava selinho nas pessoas porque eu era gentil, e não sei se dá para dizer que sim, mas foi um ato singelo.
Não foi proposital. Simplesmente aconteceu.
Talvez tenha sido pura coincidência você ter virado o rosto na mesma hora que eu.
Ou talvez você tenha feito isso de propósito e eu não saiba.
Mas aconteceu.
E eu não posso negar que fiquei feliz.
Aquele foi o pingo de esperança que eu precisava para acreditar que nós poderíamos ter um futuro juntas.
Eu tenho o costume de sempre imaginar quando alguma coisa vai acabar, e, ao contrário dos meus pensamentos atuais, eu não imaginava como nós terminaríamos.
Eu não imaginava um fim nisso tudo.
Admito: eu só ia na Educação Física no turno inverso para ver você.
Até que nos afastamos.
O teatro acabou, meu número mudou e eu nunca mais vi você.
Até aquele dia no restaurante.
Eu e meus pais temos o costume de ir ao Souza de vez em quando desde que eu era pequena.
Você disse que me viu primeiro.
Eu vi você e pensei: “aquela garota parece a Mariana”.
Eu tenho essa mania boba de achar que uma pessoa é parecida com a outra até chegar à conclusão de que aquela é a pessoa com quem eu estou comparando.
Eu olhei para você e eu só conseguia pensar: “será que é ela?”
E foi quando você me olhou e eu me senti naquele clichê onde as pessoas se reencontram depois de anos sem se falar.
Eu acenei para você e você acenou também. Em seguida, você se dispôs em pé e veio falar comigo.
Não lembro se eu te abracei ou não, mas eu sei que cumprimentei você. Começamos a conversar e eu estava tão feliz em te ver depois de tanto tempo. Relembrei o fato de que você iria para o 1° ano e eu disse que eu havia terminado a escola. Você disse que continuaria estudando ali no Santa Rita, dessa vez, no turno da manhã.
Depois que nos despedimos, meus pais perguntaram quem era você e eu respondi que era a Mariana do teatro. Meu pai perguntou se você tinha entrado na faculdade e eu disse que você havia entrado no Ensino Médio. Ele ainda me provocou falando que você parecia mais velha do que eu; que eu parecia ter 14 e você, 18.
Estranhamente, eu já tinha seu número salvo no meu celular, então resolvi mandar uma mensagem.
E nós fomos conversando.
Você fazia umas brincadeiras comigo, dizia que sentia falta de pegar na minha mão e de me abraçar e eu entrava em gay panic fodido por causa disso.
Você me disse coisas tão bonitas e eu gostaria de poder retribuir todas elas, mas eu não posso.
Eu não sou mais capaz de amar você de outro jeito, mas lembre-se que eu sempre serei apaixonada por você porque você foi uma das primeiras pessoas que eu gostei lá no Santa Rita.
Essa pode ser a primeira e última carta que escreverei para você, mas espero que você guarde-a até que esse papel esteja rasgado, ou até mesmo um tanto desbotado.
Enfim, foi muito bom amar você, Mariana.
Você merece o mundo, mas o mundo não merece você.
E não aceite amores rasos.
Você merece um amor com sentimentos tão profundos quanto o oceano Pacífico.
Com amor, Katherine.
Eu escrevi essa carta ano passado e ela faz parte do meu projeto pessoal de escrever uma carta de amor para cada pessoa que eu já amei, inspirado em ninguém mais, ninguém menos do que nossa amada Lara Jean de Para todos os garotos que já amei. Acho digno postá-la aqui no intuito de eternizar tais palavras, sem contar que gostaria de ter tais memórias nesse caixinha que é o Indie. Enfim, muito obrigada a você que leu até aqui. Espero que esteja tendo uma boa semana.

6 comentários:

  1. a carta ficou muito fofinha :')
    adoro ler as coisas que tu escreve Kathhi!

    tua sensibilidade é encantadora [♡]
    https://ocean-s1998.blogspot.com/

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    1. Muito obrigada, more.
      Fico feliz em saber que tu gosta do que eu escrevo. Me sinto lisonjeada.

      Beijos e até mais!

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  2. Meodeus que carta linda. Me emocionei aqui, amei!

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    1. Não sei nem como agradecer porque "obrigada" não parece bom o suficiente, mas obrigada. Fico feliz que minhas palavras tenham te tocado.

      Beijos e até mais!

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  3. Eu adorei a cartinha, mas fiquei espantada com a diferença de idade. Não esperava isso.

    Achei fofo o reencontro no restaurante.

    Beijinhos! Míng Yuè

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    1. Fico feliz que tenha gostado, Max. Confesso que eu também não esperava que a Mariana fosse tão nova, já que ela aparenta ter a mesma idade que eu.
      O reencontro no restaurante é minha parte preferida da carta.

      Beijos e até mais!

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